Decorria o último mês de 1449, e uma fogosa ribatejana de nome Brites de Fontes encontrava-se de esperanças. O marido, de nome Antão, tinha sido um homem rijo e com desejos sanguinários. Ao início, Brites achava estimulante estar ao lado de alguém tão possante, mas foi sol de pouca dura. Pouco depois da Páscoa, tinha pegado nas armas e saído de casa. Passado uns meses, soube que tinha sido um dos que perdera a vida na Batalha de Alfarrobeira – a Casa de Avis fora preservada, mas a de Brites tinha-se desfeito.
Desejava ardentemente ter uma menina, que de homens broncos com mais jeito para morrer que para pensar já estava o reino cheio. O que fazia falta era meninas bonitas e simpáticas que soubessem sorrir e tivessem presença de espírito suficiente para se manterem seguras e cuidadas. Brites estava certa de que ia ter uma menina assim, e já estava preparada para educar a sua filha e ensinar-lhe todas as manhas femininas possíveis. Ia chamar-se Bela, já que não existe outra palavra que tão bem descrevesse aquilo que almejava para a doce menina.
O Natal já não estava longe, o frio cortava e o vento uivava – não mais que Brites que, com a ajuda de uma parteira velha e mal encarada, se via e desejava por fazer passar uma criatura de quase 4 kg. No meio de berros, sangue, suor e algum álcool, nasceu a criança. Desanimada, Brites constata que a sua desejada filha tem uma pilinha. Mas, por ser uma mulher de vontade invergável, Brites insistia em chamar Bela ao menino.
– Ó Brites, cala-te mulher, não vês que um nome de rapaz não pode ter A no fim?
– Caralhos fodam esta merda, também! 'Tão se não vai no fim, vai no início – cabrão do puto chama-se Abel!
*Contribuição da nossa fã Catherine Ruisseau, doutorada em História pela Université de Paris IV (Paris-Sorbonne) – texto retirado do seu estudo A Origem dos Nomes – 17 Anos de Onomástica Portuguesa, que será editado brevemente em livro.
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