Nascido Para Ensinar

Nascido Para Ensinar

Em Portugal – e esta situação não é de agora –, ninguém se entende quanto à estrutura e ao funcionamento do Ensino. O que hoje é adequado, amanhã é obsoleto; o que hoje estimula as crianças, amanhã traumatiza-as. Já faltou mais para o dia em que os alunos vão entrar na sala para fazer uma prova, só para o Governo decidir acabar com a mesma enquanto eles ainda estão a responder à alínea c da pergunta 3.

Pois bem, meus amigos, e se eu vos disser que a solução para este imbróglio nos foi já servida no Cinema, e numa bela bandeja – mais concretamente através de um filme de 1987, que por acaso revi pela 15.ª vez há umas semanas? Já sei, já sei, vão me dizer «não sabemos, Francisco. Como queres que saibamos que filme de 1987 reviste por acaso pela 15.ª vez há umas semanas?» E ter um bocadinho de calma, hem? «Mas vais dizer o nome do filme, ou não?» Está bem. Trata-se, obviamente, de Full Metal Jacket, uma adaptação do romance The Short-Timers de Gustav Hasford, dirigida por Stanley Kubrik.

Pois é. Pensavam que eu ia buscar o The Wall, o Dead Poets Society, ou aquele em que a Michell Pfeiffer vai parar a uma escola de pretos e latinos minorias, não é? Nada disso. Tudo o que é preciso fazer para pôr a máquina da Educação deste país a funcionar, está demonstrado, detalhadamente, na primeira parte deste grande filme.

Se não, vejamos: os primeiros três quartos de hora, tratam da preparação de um grupo de recrutas do corpo de fuzileiros dos EUA, antes destes embarcarem para o Vietname: os recrutas, é bem de ver, são os nossos alunos; os oficiais, lá está, os professores; e o Vietname é, claramente, a vida depois da escolaridade obrigatória.

Começamos logo com uma boa ideia na primeira cena, ou melhor, no genérico, em que vemos um tipo a rapar a cabeça àquela malta toda. Talvez tenha pouco, ou mesmo nada, a ver com o Ensino, mas não fazia mal nenhum, pelo menos na primária, correr a garotada a pente zero, para não haver cá piolhagens e derivados. De seguida, passamos à camarata:

Chamo a atenção para a organização da camarata, que penso que podia (e devia!) ser adaptada às nossas salas de aula – metade das carteiras para um lado, metade para o outro e, no meio, um pequeno corredor para o professor andar livremente. E o professor... Bem, se os nossos professores fossem – se os deixassem ser – como o sargento Hartman, esta porra andava toda nos eixos:



Como puderam assistir neste excerto, ninguém faz farinha com o sargento Hartman. Ele berra, ele humilha, ele bate. O sargento Hartman não é, definitivamente, agredido a soco ou via cadeirada nas costas, como alguns dos nossos docentes. Bem, no final desta primeira parte do filme, um dos recrutas dá-lhe um tiro, mas caramba, até parece que não sabem como são os americanos...

Outro aspecto muito interessante, e provavelmente o mais importante, do método de Hartman, prende-se com o facto do sargento não castigar directamente o gajo que faz caca, mas sim os seus camaradas. Na história, existe um gordito que nunca faz nada bem, e que é o pesadelo dos restantes recrutas. O gordito faz mal a cama, toca a encher 50; o gordito rouba uma rosquinha da messe, toca a encher 100; and so on, and so on...

Imaginem as possibilidades e vantagens deste tipo de castigo colectivo, se adoptado pelo Ministério da Educação. Ai o Zezinho não fez o TPC? Então hoje não leva nenhum, mas os outros levam a dobrar! Ai a Vanessa teve negativa no teste? Menos 2 valores para os colegas! O Rui não se cala? Não vai ninguém ao recreio! Meus amigos, tal como no filme, em menos de duas semanas o problema estava resolvido. Como? É simples: à primeira, os colegas até toleravam, mas à segunda, porrada neles. Até aquela modernice do bullying ia para o galheiro, porque aqueles que se armassem em bullys eram os primeiros a apanhar na cara.

Ah, e a treta dos gordos e das gajas terem licença para não fazer puto nas aulas de Educação Física – os primeiros, porque a mamã arranjou um atestado a dizer que faz mal à coluna; as segundas porque "estão com o período" – também acabava logo. Passado um mês, estava tudo a correr que nem a Aurora Cunha.

Pronto, os que já viram o filme estão agora a dizer «epá, ó Chico, mas no fim o gordito enlouquece, e tudo por causa da pressão decorrente do método opressivo que estás a louvar». Antes de mais, é Francisco. Não vos conheço de lado nenhum, para me estarem a tratar por Chico. Depois, não têm provas de que foi só a recruta que deu cabo da cabeça do gordito – é ele que dá o tiro ao Hartman –, até porque desde o principio do filme que ele tem ar de parvinho. Além disso, ele a seguir também se mata. Problem solved.

Resumindo, até porque isto me parece tudo tão evidente que não consigo entender porque não é já regra em todo o lado, incito o Sr. Ministro Tiago Brandão Rodrigues a ver o Full Metal Jacket. Vai ver que me dará razão por tudo o que aqui expus, e até não lhe ficava nada mal premiar-me monetariamente pela ideia.

E, se por algum motivo, isto tudo não resultar, ainda temos à nossa disposição o método Battle Royale.




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