À Mesa Com... Gil - Parte II

À Mesa Com... Gil - Parte II


Antes de mais, uma nota acerca da demora desta continuação.
Dois ou três dias após a publicação da primeira parte da entrevista, no início de Agosto do ano passado, fui contactado pelo Gil, que me disse qualquer coisa do género, “epá, não publiques mais nada, que o betinho dá cabo de mim” – mais à frente, vão perceber a quem ele se referia –, “dá-me uma semana, eu depois ligo-te”...
Fiquei um bocado lixado, porque ficava por publicar a parte realmente interessante do nosso tête-à-tête. Nisto, passou-se uma semana. Um mês. Três meses. Meio ano. Nicles, não soube mais nada dele. Até ontem à tarde: “força, publica tudo, é na boa”. Fiquei tão confuso como vocês. Mas não se preocupem, já vos explico tudo. Agora, o resto da conversa.


E depois arranjaram-te aquela mansão!
Não, não... Isso queria eu! Quando a EXPO estava para acabar, eles começaram a falar na casa e tal, mas sempre naquela do "depois vemos isso, não te preocupes". Porque a casa estava no contrato! Aquilo acabou no final de Setembro, eu voltei p'ra casa dos meus pais, em Massamá, e eles nada. Depois, no Verão de 1999, ligaram-me, por causa da Fundação, que eu tinha que aparecer numas festas e o caraças, mas a casa 'tá quieto ó mau...

E continuaste em Massamá?
Que remédio. Continuei a ir lá às cenas da Fundação...

Mas desculpa: eles pagavam-te.
Pagavam, mas era uma merda. Ia lá às cenas da Fundação, eles pagavam só por cada presença que eu fazia, e aquilo era assim quando o rei faz anos. Entretanto, também fazia presenças em festas de empresas, e contava umas piadas e tal. Nessa altura, foi quando me comecei a descontrolar mesmo um bocado com a bebida... Os meus pais puseram-me fora de casa duas vezes, porque eu levava p'ra lá gajas, e devo ter partido algum espelho ou assim, porque andei assim sete anos todo fodido...

Até 2006, portanto.
Exacto. Em 2006, a Guida (Margarida Pinto Correia) chamou-me lá à Fundação. Disse-me que eu não podia continuar assim, que não dava bom aspecto ao projecto, que ia abrir finalmente a casa, e que eu ia lá ficar a fazer uma espécie de reabilitação.



Então foi a Margarida que te salvou, digamos assim.
Ó puto, salvou o caraças... Prendeu-me lá para eu não fazer merda, só isso! Aquela gente era maluca. Eu é que andava sempre perdidinho de todo, mas eles não batiam bem mesmo de nascença.

Quando falas neles...
A Guida, o betinho do marido...

O Luís Represas?
Pois! Estava sempre lá, também!

Mas espera lá, a Margarida tratava-te mal?
Ó meu amigo, eu era tratado abaixo de cão... A casa, era suposto ser para mim, mas ela encheu aquilo de putos doentes, que tinham tudo do bom e do melhor, e a mim enfiou-me lá numa arrecadação!

Nesta planta, retirada do sítio oficial da Casa do Gil (que, desde a publicação da primeira parte da entrevista, deixou de permitir o acesso às informações que continha, vá se lá saber porquê), está assinalada a misteriosa divisão onde o Gil pernoitava e, amiúde, ficava trancado, às vezes durante dias. Ele mostrou-me algumas fotos do "quarto", mas pediu-me que não as divulgasse, por vergonha.






















Vivia dos restos que os garotos deixavam, e a Guida, quando me via, dizia que se eu não fosse a mascote e a cara da Fundação, me deixava morrer à fome. 

Isso ultrapassa qualquer coisa que eu pudesse imaginar.
Foi horrível... As pessoas pensam que ela é toda boazinha e querida mas aquilo é só fachada. Ela só quer é poder e sabe mexer-se muito bem. Ainda vou escrever um livro sobre o que ela me fez passar.

Voltando então ao Represas: ele pintava o quê, no meio disso tudo?
O Represas estava lá sempre metido, a compor as suas musiquinhas da merda, com a sua viola, só de cuecas. Mal chegava a casa, tirava a roupa e andava sempre assim. Agora, imagina, lá como os miúdos e assim.

Que imagem. Ainda assim, acho que agora estás a ser um bocadinho vingativo. A Feiticeira, por exemplo, não é má.
Oh... É só essa. O resto é de uma pessoa dar um tiro na cabeça. Passa lá um dia a ouvir a Da Próxima Vez, em loop, a ver se não dás em doido. Ou o Timor. Ainda por cima levava para lá os amigos. Ele era o Olavo Bilac, era o Tim... Até houve uma altura em que gravou um disco com o João Gil, e faziam lá os ensaios todos, com os putos sempre a chorar... 

O João Gil nasceu na Covilhã, como eu.
E então?

Nada, nada, continua...
Epá, pronto, foi isso... Até aquela vaca sair da Fundação, para ir mamar para a EDP, não tive um dia de descanso. Era doida. Até o betinho, que é maluco, lhe pôs uns patins.

Mas na net há várias fotos tuas com a Margarida, em campanhas da Fundação, todo alegre, até com algumas celebridades.
Estava drogado. Eu andava sempre drogado. Nas fotos estava sempre tudo bem, mas nos bastidores só fazia merda. Apalpei as mamas à Carla Matadinho, andei à porrada com o Toy... Uma vez fui a um espectáculo onde estava o gordo do Preço Certo, mas, não sei porquê, meti na cabeça que era o Malato. Vomitei num prato de croquetes que lá estava, e depois andei para lá aos berros a dizer que ia "levar o almoço ao rabeta". Foi uma vergonha, nem me quero lembrar disso.



E agora? As coisas estão a correr melhor?
Sim, pode dizer-se que sim. Sinto que estou mais forte. Já não papo grupos daqueles. Continuo sempre dopado, para aturar os putos, mas agora fico-me só pelos Alprazolams. Às vezes papo uns quatro de uma vez e fico numa boa.

Tomaste algum antes de vir ter comigo?
Só um. Olha, bebia mais uma imperial.


Depois disto, o Gil não contou mais nada. Parecia nervoso e, até, ligeiramente paranóico. Abandonei a mesa por dois segundos, para ir pedir a imperial (o empregado era uma besta), e quando voltei, tinha desaparecido. Nem comeu as batatas.
Contou-me então, ontem, que meteu na cabeça ter visto o Luís Represas abrandar, num Mini, ao pé da esplanada onde estávamos. Fugiu para casa, e escondeu-se no quarto durante uma semana. Entretanto, esqueceu-se do sucedido e só se lembrou da entrevista porque sonhou comigo. Eu nem quis saber mais. O Gil é, infelizmente, um toxicodependente incorrigível. Pergunto-me se o que me contou é verdade. Quero acreditar que sim.
Para aqueles que, como São Tomé, precisam de ver para crer, o seguinte registo vídeo, gravado uma semana e meia depois da entrevista, demonstra bem que, na maior parte do tempo, o nosso amigo Gil está noutra.



Actualização: o vídeo supra foi retirado do ar pela Fundação do Gil, mas eu passo a descrevê-lo: lembram-se daquela macacada do Bucket Challenge? Era o Gil a fazer isso, mas com um balde vazio. Eu consegui resgatar um frame:



Grande drogado.




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