Saúde e Sorte

Saúde e Sorte

Aposto que não há ninguém que alguma vez tenha andado no metro de Lisboa e não se tenha cruzado com algum dos ceguinhos que por lá passam o dia a esmolar.

Exceptuando os turistas, que ficam sempre a olhar admiradíssimos, como se não existissem cegos lá na terra deles, a maior parte dos passageiros já nem lhes liga nenhuma, e decerto que muitos até já ouviram as histórias das fortunas que, diz-se por aí, alguns destes pedintes escondem – boatos que não passarão disso mesmo, até porque o português (e a portuguesa, para os bloquistas não embirrarem) gosta muito de falar do que não sabe.

Ainda assim, por muito boas pessoas que possam parecer – e juro que não é ressabiamento pelo facto deles, seguramente, ganharem bem mais dinheiro que eu –, tenho a dizer que estes cegos são uns charlatães. E a razão, muito simples, é a seguinte: à doação da(s) moedinha(s) no copinho/lata/garrafa de água cortada ao meio onde esses gajos (e gajas, atenção) juntam as esmolas, eles respondem sempre com «obrigado, saúde e sorte».

Pois. Não se trata de um humilde agradecimento pelos troquinhos dispensados – estamos a falar de uma transacção comercial. Posto isto, não me lixem: saúde e sorte são duas coisas que um cego que ande a pedir no metro não tem para dar, nem muito menos para andar por aí a vender. E mesmo que essa resposta seja dada com a intenção de interceder pelo ofertante a alguma divindade, eu iria sempre preferir a intercessão de alguém a quem essa divindade não tivesse destinado tão cruel castigo. É o equivalente a um judeu, prestes a ser executado, se virar para o oficial nazi e dizer, «Sargento Schultz, prometa-me que toma conta da minha maria e dos pequenos, está bem?». Para isso, mais vale ir à missa, ou assim, que os padres ao menos estudaram Teologia, devem perceber mais dessas coisas.




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