Manifesto Escadas-Rolantista

Manifesto Escadas-Rolantista


Muito terá já sido dito acerca da correcta utilização das escadas rolantes. Actualmente, já faz (ou deveria fazer) parte do senso comum que aqueles que preferem ficar parados se devem posicionar no lado direito das escadas, deixando os restantes circular livremente pelo esquerdo.

No entanto, e passados quase dois anos de recorrente utilização deste meio de subir (e descer, obviamente) andares, penso que a regra das duas faixas não só não é justa, como não se adequa ao real propósito da invenção. As escadas servem para ser subidas ou descidas. Logo, umas escadas que, por si, já sobem e descem, servem logicamente para ser subidas ou descidas mais depressa. Onde é que eu quero chegar com esta conversa? Tão somente a isto: quer subir, mas não está com disposição de mexer as pernas? Vá no elevador, seu preguiçoso! "Ah, mas eu estou cansado"... Ai está cansadinho, o menino? Veja lá, não se quer sentar no degrau, já agora?

Como já devem ter percebido, este é um assunto que me deixa bastante melindrado. Irritado, até. Mas como poderia não deixar, quando todos os dias vejo camaradas perder o comboio para a Azambuja porque, à saída do metro, um(a) estudante qualquer decidiu subir as escadas rolantes com o seu troley? Ou quando, pelo mesmo motivo, chego a casa às 17h38, à rasquinha para urinar, quando poderia muito bem ter chegado pelas 17h35?

Posto isto, e com consciência que a luta pelo sistema de duas faixas foi árdua e morosa, defendo que esta nova transição para a não paragem nas escadas rolantes seja igualmente realizada de forma gradual e ponderada. Como primeiro passo, proponho a criação do Movimento Escadas-Rolantista (MER*) – para o qual até já criei o seguinte logotipo:


A escada simboliza as escadas; a lua é uma metáfora do sonho que seria uma subida/descida sem ninguém a atrapalhar. Como segundo passo, ainda não proponho nada. Vamos ver no que isto dá, numa espécie de pé coxinho figurativo.

Para apoiar este movimento, basta que o cidadão responsável instrua o cidadão rebelde a fazer o bem, utilizando palavras de ordem como "não atrapalhem os outros, como não querem que os outros vos atrapalhem a vocês", "o povo unido, anda mais depressa" ou "anda lá com isso, ó palhaço".

Numa primeira fase, a paragem nas escadas rolantes seria tolerada aos seguintes utentes:

Grávidas – que podem fazer o que quiserem, e passar à frente de toda a gente, como é do conhecimento geral (a minha teoria é que um dia, antes das grávidas terem este tipo de prioridade, uma senhora deu à luz enquanto esperava na fila de uma charcutaria, ou de uma alfaiataria, sei lá, e foi uma nojeira. Agora toda a gente despacha as grávidas, não vão elas entrar em trabalho de parto, e depois é uma grande porra);
Gente muito idosa – sejamos francos, já não vão atrapalhar durante muito tempo, é melhor deixá-los estar;
Maluquinhos – pronto, coitados.

O resto dos transeuntes, ou andam, ou apanham o elevador, que é para isso que ele lá está. Quando não há elevador, ou está avariado, podem ir parados, vá. Também não sou nenhum monstro. Mas o ideal era tentarem andar, nem que fosse devagarinho.

Estimo que, com a ajuda e colaboração de todos, em sete anos e meio, conseguiremos alcançar esta mudança, e fazer das escadas rolantes um veículo que realmente acelera a subida/descida para o andar de cima/baixo a toda a população e, dessa forma, mudar o mundo. Ou, pelo menos, permitir que as pessoas cheguem mais depressa aos sítios onde tomarão decisões que mudem o mundo – o que também é bastante bom.

Ah, é verdade, já me esquecia: escadas-rolantistas de todo o mundo, uni-vos!

* Eu sei, eu sei... Este acrónimo poderá ser tentador para engraçadinhos com um marcador à mão. Mas agora já mandei fazer as t-shirts e os pins. Paciência.




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