Brinca na Areia

Brinca na Areia

Quem, como eu, cresceu a ver os Mundialitos de futebol de praia (que costumavam ser entusiasticamente transmitidos pela TVI, já que era o mais parecido que tinham com uma transmissão desportiva), que animavam ali quatro ou cinco dias do Verão, antes de começar a senhora seca que é a Volta à Portugal, sabe que aquilo, com muito raras excepções, funcionava da seguinte forma: Portugal ganhava todos os jogos, o Madjer e o Alan (que jogam desde que me lembro, e hão de jogar até a FIFA acabar com esta brincadeira e mandar toda a gente ir jogar raquetes) marcavam dezenas de golos, de todas a maneiras acrobaticamente possíveis, e, na final, perdíamos contra o Brasil.

Desta vez, foi diferente. A selecção, treinada por Mário Narciso, além de vencer a prova, fez questão de conquistar ainda os troféus de melhor jogador (Jordan Santos), melhor marcador (Belchior, com sete golos), melhor guarda-redes (Hidalgo, com três golos sofridos) e melhor ataque (27 golos). Em suma, papámos tudo.

Ora bem, a pergunta que agora se impõe é, obviamente, “eh lá, como é que aqueles gajos fizeram isto?”. Terá sido a sábia opção de colocar Bilro na equipa técnica? Ou será que a Federação andou a investir dinheiro e atenção no futebol de praia, e temos hoje novos valores a despontar na modalidade? Não, o Madjer e o Alan continuam a ser as estrelas, e Portugal encontra-se apenas no quinto lugar do ranking mundial, logo a seguir, imagine-se, ao Taiti.

A explicação é, na verdade, muito mais simples, e passa por um conjunto de decisões, a meu ver, inteligentíssimas, por parte da FPF. Este ano, não houve cá grupos, nem meias-finais: eram só quatro equipas, jogaram todas entre si uma vez, e acabou; e a escolha das equipas também não foi deixada ao acaso: Japão, Estados Unidos da América e Hungria – respectivamente os 14º, 17º e 35º classificados do ranking. Foram evitados, portanto, os factores que poderiam dificultar a vida à equipa das quinas: a possibilidade de eliminação e, principalmente, selecções que realmente sabem jogar futebol.

A Hungria nem tem mar. Os coitados têm que treinar em praias fluviais.

Pode dizer-se, em jeito de conclusão, que esta XIX edição, preparada ao pormenor por Fernando Gomes e respectiva equipa, não só permitiu uma aproximação ao Brasil em número de Mundialitos (ficam a faltar sete para os apanharmos), como deixa antever futuras edições interessantes, ainda que mais do ponto de vista cultural, do que propriamente do desportivo. Não seria de estranhar a participação, já em 2016 (no próximo ano, decorre o Mundial a sério; nesse, não dá para evitar o Brasil e a Rússia), de países como o Bahrein, a Líbia, a Moldávia, o Iémen, ou a Bélgica, que no futebol normal está bem e recomenda-se, mas no de praia é a maior nódoa a nível planetário.

Eventos como este, representam uma oportunidade única no presente panorama cultural nacional. Que outras hipóteses teríamos de trazer até nós, por exemplo, os famosos Bengaleiros de Bayda?

É também provável – e se ninguém pensou nisto, fica aqui a minha singela sugestão – que a Federação aposte em formas ainda mais rápidas e fáceis de levar a nossa selecção à vitória, como organizar edições só de um jogo, contra uma equipa a seleccionar aleatoriamente, de entre as últimas trinta do ranking. Até dava para fazer vários Mundialitos no mesmo ano, e ultrapassar os brasileiros sem eles darem por isso.




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